A recente decisão da Comissão Europeia, em 3 de setembro, de dar luz verde ao acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul reacende um debate estratégico sobre o futuro das relações econômicas transatlânticas. Muito além de um simples tratado de livre-comércio, o pacto simboliza uma tentativa de reposicionamento geopolítico da Europa em face das mudanças globais no comércio internacional.
A comunidade italiana, que historicamente representa uma das maiores forças sociais e econômicas da América do Sul, pode desempenhar um papel essencial nesse processo. Sua presença consolidada no Brasil, na Argentina e em outros países do bloco funciona como uma ponte natural entre as duas regiões, favorecendo a aproximação cultural, econômica e política.
Os ganhos potenciais para a Europa são claros: abertura de mercados para automóveis, máquinas e bebidas alcoólicas, setores em que a União Europeia já possui liderança tecnológica e competitiva. Para o Mercosul, a contrapartida será o acesso facilitado de seus produtos mais emblemáticos — carne, açúcar, arroz, mel e soja — ao exigente mercado europeu, ampliando divisas e fortalecendo cadeias produtivas locais.
Entretanto, como todo acordo dessa magnitude, há riscos e resistências. Agricultores europeus temem que a entrada em larga escala de commodities sul-americanas fragilize setores locais, já pressionados por custos elevados de produção e normas ambientais rígidas. O temor é legítimo: sem mecanismos adequados de proteção, a agricultura europeia poderá enfrentar sérias dificuldades de competitividade.
O desafio, portanto, não está em negar o acordo, mas em administrá-lo. Será necessário construir salvaguardas, mecanismos de compensação e políticas públicas que assegurem a sustentabilidade da produção europeia, sem inviabilizar a abertura de mercados e o fortalecimento das relações entre os dois blocos.
Se conduzido com equilíbrio, o pacto UE–Mercosul pode representar não apenas uma vitória econômica, mas também um avanço político e civilizatório, ao aproximar regiões historicamente conectadas por laços culturais e migratórios. Nesse cenário, o protagonismo da comunidade italiana na América do Sul poderá ser um diferencial para transformar este acordo em um verdadeiro projeto de futuro.
Salmi Paladini Neto
Advogado – OAB/SC 44.947
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